The Act of Seeing with One’s Own Eyes (1971)


The Act of Seeing with One’s Own Eyes, real. Stan Brakhage. EUA, 1971. 16mm, cor, 32 min.

Os filmes de Stan Brakhage raramente foram vistos fora do pequeno circuito do cinema experimental, mas ele filmou uma embalagem de amaciador para roupa da marca Dwony, a cair em câmara lenta sobre uma pilha de toalhas, para um anúncio de televisão que quase todos os americanos conhecem. The Act of Seeing with One’s Own Eyes é o terceiro filme de uma série de obras documentais realizadas em Pittsburgh que são das mais conhecidas da sua filmografia. Brakhage acompanhou polícias durante três dias para o primeiro filme, Eyes (1971). O segundo filme, Deus Ex (1971), mostra uma intervenção cirúrgica ao coração. Este filme, The Act of Seeing with One’s Own Eyes, revela o trabalho numa sala de autópsias, um território escondido e desconhecido. Foi-lhe pedido que não mostrasse o rosto de ninguém. Aos quarenta anos, o cineasta tinha sido assaltado por um medo agudo da morte. Pensava que a raiz deste medo talvez fosse o facto de só ter visto um cadáver quando era pequeno à distância de um quarteirão, tapado rapidamente para que crianças como ele não o vissem. O contacto com a materialidade bruta da morte foi uma forma de lidar de frente com o problema. Quando começou a fazer filmes, um amigo seu trabalhava numa morgue, mas nessa altura não tinha permissão para filmar os corpos mortos. Ficou o impulso, que se tornou urgente. O acto de ver com os próprios olhos do título vem da etimologia da palavra autópsia. Amparado por quem abria e examinava os corpos, o cineasta fez este filme em desequilíbrio: sentiu-se mal-disposto em muitos momentos, agarrando-se firmemente à câmara, encontrando no filme que fazia aquilo que o impedia de desfalecer. Brakhage confessou mais tarde que não teria aguentando filmar corpos de crianças. O filme é literal, sem recorrer a imagens metafóricas que seriam um modo de escapar ao acto de ver a morte com os próprios olhos — esta é a experiência pungente proposta ao espectador. [09.07.2016, orig. 09.2005]