O Voo da Papoila (2011)


O Voo da Papoila, real. Nuno Portugal. Portugal, 2011. DCP, cor, 15 min.

Mais de três décadas depois do 25 de Abril de 1974, O Voo da Papoila olha para um presente marcado por esse acontecimento — como se ainda não fosse passado. Este é um filme em que o futuro fica por resolver, o que faz com que o seu aparente pessimismo não possa ser lido simplesmente como uma derrota. As primeiras imagens são de arquivo: registam a libertação dos presos políticos encarcerados pela máquina repressiva do fascismo. Na rua, as pessoas gritam que o povo unido jamais será vencido. E um povo que se sente vencido pode ser reunido? No centro da narrativa está a fotografia de um miúdo e de um soldado no dia da revolução. Mais de trinta anos depois, o fotógrafo que registou esse momento, Sebastião (Fernando Taborda), continua a fotografar. Joaquim (Fernando Ferrão), o antigo soldado, vive agora com grandes dificuldades. Rui (Filipe Costa), o miúdo que se tornou adulto, disfarça-se de soldado com um cravo vermelho na ponta da arma, actuando como homem-estátua na rua à espera que alguém que lhe deixe algumas moedas (euros, já não escudos). O soldado que Rui tenta ser é uma pálida imitação daquele que Joaquim foi. A fotografia deles, risonhos, era uma imagem de esperança. O que sobrou dela? Inspirado pela popular canção “Somos Livres” de Ermelinda Duarte, O Voo da Papoila é uma obra que filma um impossível retorno. As imagens são feitas paredes. Os rostos fecham-se. Ou será que deixámos que as imagens fossem desabitadas pela história e os rostos apagados de histórias? Esta curta-metragem realizada por Nuno Portugal confronta a desilusão sem rodeios. [28.12.2017, orig. 04.2015]