Svoy sredi chuzhikh, chuzhoy sredi svoikh (1974)


Amigo entre Inimigos, Inimigo entre Amigos, real. Nikita Mikhalkov. URSS, 1974. 35mm, cor e pb, 97 min.

“Vitória!” “Igualdade!” “Fraternidade!” “Paz!” Os gritos e a canção que abrem o filme marcam o tom nostálgico, tornado visível na cor sépia da sequência. 1973 foi o ano em que o desenvolvimento económico da União Soviética tinha chegado ao auge, depois de ter sido interrompido e atrasado pela destruição provocada pela Segunda Guerra Mundial. Era o momento de olhar para trás, de relembrar os valores da Revolução de Outubro. Mas apesar da celebração alegre da amizade, a canção que ouvimos é de guerra. A primeira longa-metragem de Nikita Mikhalkov desenvolve uma narrativa na guerra civil que sucedeu à revolução. O início da década de 1920 foi um tempo de escassez e fome e o ouro era utilizado pelo governo para pagar bens essenciais. Shilov (Yuriy Bogatyryov) é um soldado do Exército Vermelho suspeito de ter roubado ouro que se vê obrigado a infiltrar-se num bando de criminosos, soldados do Exército Branco, para provar a sua inocência. Para descobrir onde está escondido o ouro, terá de se tornar amigo entre inimigos. Amigo entre Inimigos, Inimigo entre Amigos é o que se chama um eastern, um western passado nas regiões asiáticas da União Soviética. Encontramos nele a iconografia dos homens a cavalo que percorrem extensas paisagens, com uma assumida simpatia pelos trabalhadores e pelos nativos, bem notória na utilização de actores de diferentes etnias. Algumas cenas de acção ficaram na história do cinema russo-soviético, como a do assalto ao comboio, em que imagens a preto e branco em alto-contraste são combinadas numa cadência rápida, ou a cena final nas montanhas rochosas junto a um rio. A utilização de recursos expressionistas é notória: as grandes angulares que distorcem as coisas, a caracterização carregada do protagonista que o assemelha a um defunto, as batidas de percussão repetidas que marcam a confusão das personagens. A camaradagem e a fraternidade são reafirmadas no fim com entrecruzamento das imagens em sépia do início. É sugerido que Shilov há-de reencontrar os seus camaradas, mas isso não chega a ser mostrado. O reencontro com o passado fica em suspenso. [02.02.2018, orig. 29.10.2015]