Mothlight (1963)


Mothlight, real. Stan Brakhage. EUA, 1963. 16mm, cor, 4 min.

Colagens. Uma poética da visão como percepção do mundo. O estilo de Brakhage é inspirador do sucessivo cinema estruturalista e da videoarte. Aqui trata-se daquilo que uma traça deve ver do nascimento à morte, se o preto fosse branco e o branco fosse preto, disse ele. Foi um filme que nasceu da mágoa e dor em relação ao seu ofício, mas isso foi importante para a criação da obra. As traças queimavam-se no fogo das velas até morrerem — como ele, que não fazia dinheiro suficiente com os seus filmes para sustentar os filhos. Ele sentia o horror da imolação. Tentar filmar as traças era entender a sua condição — e ele queria perceber a sua condição. Filmou traças, mas elas eram demasiado rápidas, não tinha agilidade para fixar o seu movimento. Depois reparou nas que estavam mortas nas lâmpadas quentes. Pensou que podia fazer algo com elas. Utilizou-as, colando-as numa fita com a mesma largura dos 16 mm, dando-lhes uma nova vida através da projecção pela luz do projector. A luz devolve-lhes a vida numa espécie de loucura, deu um significado à sua morte. A partir da colagem foram feitas cópias que podiam ser projectadas. As colagens duravam vários fotogramas, as asas escapavam para outros fotogramas resultando numa rapidez controlada num ritmo musical. Porque a projecção do filme divide tudo em pequenas fracções, o espectador vê asas de traça e percebe como a projecção de um filme funciona. A divisão maquinal da película em pequenos rectângulos torna-se uma metáfora das subdivisões da natureza pela civilização. Aparece relva, brevemente. [27.04.2019, orig. 09.2005]