A Guitarra de Coimbra (2019)


A Guitarra de Coimbra, real. Soraia Simões. Portugal, 2019. Vídeo, cor, 53 min.

Este documentário da historiadora de música Soraia Simões é uma peça que investiga a guitarra de Coimbra para além da estreita visão tradicional. O seu propósito principal parece ser, precisamente, desafiar as ideias feitas e desvendar outras histórias do desenvolvimento da guitarra coimbrã. O mesmo é dizer que este instrumento tem um passado mais diverso do que aquele que o conservadorismo deixa perceber e que o seu futuro é promissor, tendo em conta as experiências recentes conduzidas por bandas como A Naifa — Luís Varatojo é um dos entrevistados. O filme é dedicado à avó da realizadora, Maria do Céu Simões Lopes. Não é por acaso. Um dos aspectos mais explorados é o contributo valioso (e ignorado) das mulheres que aprenderam o dedilhar à maneira de Coimbra como Ana Sadio. Outro aspecto abordado (e esquecido) é a importância do trabalho dos construtores de guitarras como Fernando Meireles, chamando a atenção para a sua assinatura, os diferentes modelos que conceberam, as diferenças na sonoridade. A Guitarra de Coimbra capta os diversos contextos culturais da música que nasceu deste instrumento de cordas, da vida académica à noite boémia, procurando fixar o ambiente actual e os seus sinais. Tem um cuidado particular no enquadramento cenográfico das entrevistas quando regista mulheres e homens a tocarem, inscrevendo a música numa trama histórica precisa. Evoca algumas figuras incontornáveis como Adriano Correia de Oliveira, Artur Paredes, e o seu filho Carlos, através das imagens e conversas. Mas até essas são difíceis de encaixar na narrativa oficial, quer por questões estilísticas quer por razões políticas — a utilização da gravação de um concerto com Luísa Amaro na Festa do Avante! salienta a militância comunista de Carlos Paredes. [25.03.2020]