Medo.com, real. William Malone. Alemanha/EUA/Luxemburgo, 2002. 35mm, cor, 101 min.
Quatro pessoas morreram, dois dias depois de terem visitado um sítio electrónico. Morreram apavoradas, confrontadas com o que cada uma mais teme. Um detective (Stephen Dorff) e uma investigadora médica (Natascha McElhone) investigam o caso. Esta investigação podia desvendar o desejo de querer ver mais — a voz feminina diz “gostas de ver?” e a resposta é afirmativa, depois pergunta se a pessoa quer ver mais, e ao colocar esta questão dirige-se ao visitante do sítio na primeira pessoa, nomeando o seu nome, e o visitante responde que sim. No entanto, a narrativa segue o percurso de um inquérito policial assombrado. É mais importante o encontro com o torturador e homicida (Stephen Rea), do que esclarecer os efeitos e o funcionamento do que chega às personagens através do computador. O modo como esse contacto confunde e viola os limites do real remete para Experiência Alucinante (Videodrome, 1982), que foi muito mais longe nesta reflexão. A natureza etérea da Internet, que lhe permite acolher almas, é um ponto de partida interessante. Sendo um policial, o filme reduz-se à sua estrutura mais esquemática — o que afecta também a interpretação dos actores. O género providencia uma estrutura à qual foram simplesmente adicionadas imagens tenebrosas e impressionantes. William Malone engendra uma experiência próxima de um pesadelo, com cortes rápidos, contrates súbitos, sombras projectadas. Esses choques provocados de modo intermitente estão muito distantes do medo que se pode entranhar em cada espectador. O realizador tem talento visual para criar certas imagens que expressam delírios e dores, mas o filme, como um todo, surge desarticulado. [14.01.2010, orig. 08.2003]