Hostel (2005)


Hostel, real. Eli Roth. EUA, 2005. 35mm, cor, 94 min.

De acordo com Eli Roth, foi um sítio electrónico tailandês que lhe sugeriu a premissa para Hostel. Por alguns milhares de dólares, os clientes podiam assassinar alguém. A oferta não foi confirmada como verdadeira pelo cineasta, mas tem grandes potencialidades ficcionais. Os actos de violência e o gesto de matar são um limite do tédio contemporâneo, que procura sempre superar a intensidade do que já foi experimentado e a interdição do que legalmente não pode sê-lo. A vida da vítima, na sua integridade física e psicológica, fica submetida a um poder que não a reconhece como igual, subjugando-a como objecto de entretenimento no interior da mercantilização das relações sociais. Não admira que o filme seja anunciado como uma intensa experiência de tortura e morte. Na verdade, o australiano Wolf Creek (2004) corresponde melhor a essa descrição. A obra dirigida por Roth — povoada de cameos, do japonês Takashi Miike ao produtor Quentin Tarantino — dispersa-se numa demorada introdução e numa apressada conclusão. A introdução narra a viagem e a captura do grupo de rapazes, estabelecendo o seu companheirismo e o seu frívolo estado de espírito. Apesar de ser demasiado longa, fazendo vacilar o género do filme, o que é importante é a noção de fantasia como construção que oculta a realidade: eles encontram o prazer sexual que procuram, desconhecendo o seu horrível reverso. A secção intermédia descreve o que acontece no local de cativeiro. As atrocidades são enquadradas e ecoam num cenário simbolicamente em ruína. O medo e a dor são filmados sublinhando uma prolongada expectativa que tem a morte como horizonte — como quando Paxton (Jay Hernandez) está preso à cadeira, as luzes se apagam, e o plano dura mais alguns segundos para que os seus gritos sejam ouvidos sobre o negro do ecrã. Infelizmente, as ideias de direcção não são acompanhadas pelas ideias de argumento. Embora seja superior, Hostel partilha com o anterior filme dirigido por Roth, A Cabana do Medo (Cabin Fever, 2002), o modo como a tensão é dissipada pela estrutura narrativa e pelas oscilações de tom. A conclusão é uma prova disso: uma sucessão acelerada de coincidências que fecham de uma forma demasiado circular esta interessante, mas irreflectida, “sátira”. [16.01.2010, orig. 04.2006]