2001, Odisseia no Espaço, real. Stanley Kubrick. EUA/Reino Unido, 1968. 35mm, 70mm, cor, 141 min.
Este é um filme para amar, para gostar de habitar: um filme que nos passa a habitar. É uma das obras de cinema sobre a quais mais se escreveu e, no entanto, é um filme sobre o qual não apetece falar, porque sentimos o peso da inutilidade do nosso discurso. Segundo Stanley Kubrick: “2001 é uma experiência não verbal. Em duas horas e dezanove minutos de filme há pouco mais de quarenta minutos de diálogos. Tentei criar uma experiência não verbal. Tentei criar uma experiência visual que rodeia o entendimento e as suas construções verbais, para penetrar directamente no inconsciente com o seu conteúdo emocional e filosófico. [...] Quis que o filme fosse uma experiência intensamente subjectiva que atingisse um nível profundo de consciência do espectador, exactamente como a música.” Há um pacto de silêncio que este filme nos impõe. Nada há para explicar, mas sentimos que tudo faz sentido. É uma reflexão sobre o sagrado e o sentido último das coisas. Porquê? Porque aceita a densidade do mistério sem lhe querer dar outro estatuto. Ainda há quem pergunte o que é o monólito negro que espanta os antepassados da humanidade e assombra os astronautas. Trata-se de um não-objecto que, no limite, nada representa. Tem o excesso simbólico de estar em lugar daquilo que não pode ser representado. O filme é uma viagem de descoberta tal como o monólito é um espelho: interessa menos saber o que estamos a olhar e mais saber quem somos nós, que olhamos e somos olhados. Sendo assim, não há nada de enigmático na imagem final de um feto com o rosto de um homem, porque não há maior mistério do que a vida. Esta é uma obra imensa. A escala vai mudando, de um osso para uma nave espacial, de uma paisagem crepuscular para uma dança de planetas, mas a solidão cósmica dos seres permanece. 2001, Odisseia no Espaço convida-nos a enfrentá-la. [12.02.2010, orig. 06.1999]