O Rei do Bairro, real. Steven Soderbergh. EUA, 1993. 35mm, cor, 103 min.
A Grande Depressão vista pelos olhos de Aaron Kurlander (Jesse Bradford), uma criança de doze anos. Em 1933, em St. Louis, ele, o pai (Jeroen Krabbé), a mãe (Lisa Eichhorn), e o irmão (Cameron Boyd) vivem num hotel, de onde diariamente são despejadas pessoas. A crise económica estava a atingir o auge. A família vai-se desagregando: Sullivan, o filho mais novo, é mandado para os tios, para poupar despesas; a mãe é internada num sanatório; o pai parte para Iowa para fazer dinheiro através da venda de artigos. O miúdo inventa histórias, tenta enganar o seu destino. Vai vivendo uma série de episódios que, na sua banalidade quotidiana, traçam um retrato profundo da realidade social da época. As memórias de A. E. Hotchner, escritas em 1973, são a base de um filme atento às mais pequenas nuances do trabalho dos actores e apostado na valorização dos pormenores. Por isso, não há elemento que não tenha uma função precisa e as personagens existem na sua imensa e secreta singularidade. Se a reconstituição de época não é superficial é precisamente porque não pretende ser total: há um verdadeira ponto de vista íntimo e curioso que a sustenta, o de Aaron. Para além do espantoso trabalho dos actores, tecnicamente o filme é um prodígio de inteligência e sensibilidade — analise-se a montagem assinada pelo próprio realizador, Steven Soderbergh. [14.02.2010, orig. 06.2002]