American Pie (1999)


American Pie - A Primeira Vez, real. Paul Weitz [Chris Weitz]. EUA, 1999. 35mm, cor, 95 min.

Eles fazem um pacto porque não querem acabar o liceu sem terem conhecido os prazeres do sexo. É o futuro que apoquenta os rapazes, mas também as raparigas: não se arrependerão, se perderem esta oportunidade? Até ao baile de finalistas a questão deve ser resolvida. O pacto é um acordo de ajuda para atrair as raparigas, mas é um longo caminho que leva a um amadurecimento das personagens. No fim, interessa menos o sexo e mais aquilo que ele revela ou expressa. As situações de cada um dos pares que se formam são muito distintas. Debaixo da irreverência há a verdade das descobertas. O retrato do liceu não mostra grupos que se invejam e desprezam. As raparigas são independentes, audazes, mas tudo é visto pelos rapazes — um dos encontros de Oz (Chris Klein) é com uma rapariga mais velha, estudante do feminismo. São os rapazes que se esmeram para serem dignos das raparigas. Elas são tão importantes como eles, as relações são mútuas, e buscam a sinceridade. O humor juvenil funciona também em ligação com a família. O pai (Eugene Levy) de Jim (Jason Biggs) quer ensinar-lhe acerca das mulheres e da masturbação, mas os pensamentos sobre esses temas já ocupam a mente do filho. A idealização e sobrevalorização do sexo revela-se mais tarde como precipitada, porque se trata apenas de uma parte da vida e de uma relação amorosa, com o seu lugar e significado. A amizade e a sensibilidade de saber lidar com os companheiros são mais importantes — por exemplo, Oz diz que nada aconteceu na noite anterior, mentindo para preservar a sua intimidade. Stifler (Seann William Scott) é a personagem que nenhum quer ser, o obcecado sexual, aquele que aparentemente não muda — mas é também aquele que se gaba sem razão, que insiste em demonstrar que não entende a relação entre Vicky (Tara Reid) e Kevin (Thomas Ian Nicholas) e em gozar com Oz pela sua inexperiência, revelando a sua própria insegurança. A falta de segurança é um dos temas do filme, a dificuldade em declarar o amor a alguém, vendo no rosto dessa pessoa a ressonância da declaração (daí a opção pelo som fora-de-campo nesse momento da sequência no baile). Esta é uma revitalização da comédia de adolescentes. As piadas têm uma dimensão intencionalmente grosseira que não se sobrepõe ao hilariante, ao tocante. É de notar que muitas destas piadas nascem da acção, provocando um embaraço muito humano às personagens, por estarem numa situação que não controlam. O resto é território comum e momentos cómicos menos conseguidos. [31.03.2010, orig. 05.2002]