La sagrada familia (2005)


La sagrada familia, real. Sebastián Lelio. Chile, 2005. 35mm, cor, 99 min.

O drama da dissolução familiar é enquadrado nesta obra através da relação com o catolicismo, tão fundamental na cultura sul-americana. Essa influência cultural está sempre presente, mesmo para quem se coloca fora da religião, como reacção. Por isso, a noção de transgressão tanto parece percorrer a desunião dos actos sexuais como o deleite de comer um chocolate. São três dias de Páscoa, nos quais a desonestidade e desatenção das relações tende para o trágico. O realizador utiliza a câmara de vídeo como um microscópio, colado ao rosto das pessoas para lhes captar as emoções e desvendar a alma. É uma intensidade peculiar, mas impossível de sustentar a todo o momento. Esta proximidade e carnalidade tem assim o efeito de fazer desaparecer as personagens como seres inteiros. O argumento tem inúmeros problemas de estrutura apesar dos sagazes diálogos e da vibração dos actores. Há, por exemplo, uma história secundária de uma relação homossexual completamente redundante em relação ao núcleo (familiar) e de que o próprio filme se esquece. O desenlace é pouco justificado pela dramaturgia, como se as motivações mais profundas do desespero e da violência que explodem no fim tivessem sido elididas. [09.03.2010, orig. 04.2006]