Mutual Appreciation, real. Andrew Bujalski. EUA, 2005. 35mm, cor, 109 min.
Filmado a preto e branco e de uma forma directa, este é um interessante exemplo de um cinema independente que pertence a uma tradição especificamente estado-unidense. Os diálogos têm a verve humorística de um Woody Allen e o tom improvisado remete para John Cassavetes. No entanto, no cinema de Cassavetes, a imponderabilidade aberta pela improvisação era indissociável de um sentido narrativo, menos determinado pela progressão de qualquer histórica, e mais definido pela simples atitude de seguir os actores/personagens num percurso lançado pela própria incarnação. Da vibrante autenticidade de Mutual Appreciation está ausente este sentido, o que faz com que o filme acabe por ser uma colecção de cenas mais ou menos ligadas, mais ou menos relevantes, mais ou menos consequentes, conforme os momentos. O retrato do desnorte desta geração é irremediavelmente pouco coeso, a não ser que se pense que a ideia de Andrew Bujalski era colocar essa desorientação literalmente em cena. [05.04.2010, orig. 04.2006]