Poseidon (2006)


Poseidon, real. Wolfgang Petersen. EUA, 2006. 35mm, 70mm, DCP, cor, 98 min.

Poseidon era o deus do mar na mitologia grega. O navio cruzeiro com o mesmo nome deveria ter o poder de conquistar o mar sem estar à sua mercê, mas não é isso que acontece. Uma onda gigante consegue virá-lo e colocar os passageiros e a tripulação na iminência da morte por afogamento. Esta é a aventura de um grupo de personagens que tentam escapar a esta fatalidade. Poseidon é uma nova versão de The Poseidon Adventure (1972), realizado pelo inglês Ronald Neame, com Gene Hackman e Ernest Borgnine. O original pertence à vaga de grandes filmes-catástrofe feitos na década de 1970, que inclui Terramoto (Earthquake, 1974), A Torre do Inferno (The Towering Inferno, 1974), entre outros. Esta versão aparece quase isolada de qualquer tendência, já que o último grupo de obras deste género surgiu há uns anos, no contexto da transição de milénio, através de Titanic (1997) e Armageddon (1998), por exemplo. Ao contrário de The Poseidon Adventure e Titanic, o filme dirigido pelo alemão Wolfgang Petersen não consegue estabelecer uma perspectiva dramática que dê ressonância à calamidade. A estrutura narrativa do argumento de Mark Protosevich — A Cela (The Cell, 2000) — determina um objectivo para as personagens (chegar a uma das saídas do casco), mas isso é insuficiente para as definir dramaticamente: delineia apenas um roteiro cumprido sem desvios. Há uma tentativa de dar traços distintivos a algumas delas: a culpa de um ex-mayor de Nova Iorque entristecido (Kurt Russell), os problemas afectivos de um homossexual suicidiário (Richard Dreyfuss), as razões de uma agitada clandestina (Mia Maestro). Mas o filme privilegia sempre os grandiosos efeitos visuais e sonoros em vez do acompanhamento e desenvolvimento das personagens. Petersen tem no currículo dois filmes nos quais o mar é uma paisagem primordial: o excelente A Odisseia do Submarino 96 (Das Boot, 1981), e Tempestade (The Perfect Storm, 2000), com fragilidades muito próximas desta nova película. Poseidon consegue criar alguns momentos de tensão, surpreender nalguns dos seus desenlaces, e é competente do ponto de vista técnico. É pouco para uma obra de um cineasta que tem na sua filmografia um thriller tão elegante como Na Linha de Fogo (In the Line of Fire, 1993). [10.04.2011, orig. 07.2006]