L’Intrus (2004)


L’Intrus, real. Claire Denis. França/República da Coreia. 35mm, cor, 130 min.

Um belo e arriscado exercício narrativo de Claire Denis, realizadora de Beau Travail (1999), a partir desta ideia: uma personagem, magnificamente interpretada por Michel Subor, como enigma irresolúvel. Entenda-se aqui “narração” não simplesmente como “exposição”, mas de modo mais alargado como relação, a partir da etimologia da palavra. À imagem da personagem, o filme é enigmático. Associa e faz suceder espaços e tempos, evocando com ousadia a fluidez do subconsciente, através de evocações e recordações, representações e símbolos. Esta história de um velho homem solitário e assombrado, com um novo coração e a ânsia de reencontrar o filho, torna-se então numa sequência de imagens, sons, e música, organizada a partir de noções de ruptura e contemplação, fuga e permanência. Não é de admirar portanto que algumas cenas, como a da escolha do filho substituto, surjam como dispensáveis pela sua tonalidade. Este é um risco implícito no projecto. [04.02.2011, orig. 04.2006]