Às Segundas ao Sol, real. Fernando Léon De Aranoa. Espanha/França/Itália, 2002. 35mm, cor, 113 min.
Numa pequena cidade da costa espanhola, um grupo de desempregados vive ainda assombrado pelo fecho do estaleiro que os empregava. Este acontecimento deixou-os terrivelmente desorientados, condenados a uma triste repetição. A vida destes homens é apresentada como um conjunto de episódios em que cada um tem um lugar, inventado, e uma história que criou para si e para os outros, mentindo. Este realismo é o oposto do naturalismo: sabe que todo o realismo é social, entende a narrativa como uma demanda sobre a obscuridade, não sobre a evidência. Por estas duas razões, tudo passa pelo teste e pela necessidade da convivência, e não há destinos adivinhados para estas personagens em solidão. O cinema espanhol tem na sua história nomes como Juan Antonio Bardem e Luis Garcia Berlanga que compreenderam bem isto. Léon De Aranoa insere-se nessa tradição, pelo valor dos detalhes dos espaços e dos corpos, pela cuidada montagem descontínua mas fluida, tecida de momentos indeléveis. As cuidadas interpretações fazem dos protagonistas centros intensos e irradiantes, como esse Javier Bardem inchado na interpretação de Santa, personagem revoltada e azeda, cuja revolta e azedume transparece pelos seus devaneios e gestos. Estas são as pessoas que os lugares-comuns do jornalismo simplificam ou que as estatísticas e os números fazem esquecer — e este é um retrato comovente delas, da sua partilha, do seu orgulho, da sua melancolia, do seu riso. [29.03.2011, orig. 08.2003]