Solaris (2002)


Solaris, real. Steven Soderbergh. EUA, 2002. 35mm, cor, 99 min.

Menos uma nova versão de Solaris (Solyaris, 1972), mais uma releitura do livro de Stanislaw Lem. Onde Andrei Tarkovski encontrou uma reflexão teológica sobre a origem e o destino da humanidade, Soderbergh leu uma história da culpabilidade e do amor de um homem. Ele é um psicólogo viúvo de nome Chris Kelvin (George Clooney), chamado a uma estação espacial junto ao planeta Solaris. A aproximação ao astro gerou efeitos nos tripulantes. Todos os tripulantes são visitados por entes que materializam uma disposição auto-punitiva por uma falta definitiva, um sentimento de culpa. O reencontro com o que se perdeu é portanto tão feliz como assustador. Através desta alteridade assombrada propicia-se um confronto de cada um consigo. O espaço aparece reduzido, fechado — um túmulo, não para aniquilar todos, mas para os inscrever noutras dimensões. Os momentos parecem suspensos em imagens repetidas, geladas na sua brevidade, comunicantes nas suas emoções e épocas. A estrutura destrói sucessivamente, em cada plano, em cada som, a unidade e homogeneidade espacial e temporal. O narrado parece ser a projecção externa da actividade de uma mente, no que ela tem de recordação e percepção. A ambiguidade é aqui outra forma de dizer desconhecimento. O medo surge daí, dessa ignorância que preserva a integridade de um ser humano. O apaziguamento só acontece quando Chris rejeita a pura racionalidade: quando ele pergunta a ela, Rheya (Natascha McElhone), se eles estão vivos ou mortos, e ela lhe responde que já não têm de pensar assim. [02.03.2011, orig. 08.2003]