Pina, real. Wim Wenders. Alemanha/França/Reino Unido, 2011. 35mm, DCP, cor, 103 min.
A coreógrafa Pina Bausch dizia que lhe interessava menos o modo como as pessoas se mexem e mais o que as faz mexer. Wim Wenders, cineasta sempre interessado nas escolhas e nos dilemas da alma, poderia dizer algo parecido. Pina, desde logo pelo título familiar e pela oferta que é (“um filme para Pina Bausch”), surge como um projecto de um amigo, admirador, e artista que mostra a sua afinidade com o que quer homenagear e perpetuar. Excertos de composições dançadas em palco e em cenários urbanos e naturais constituem a maior parte do filme, prolongando a doce utopia da arte de Bausch: qualquer local pode ser palco, lugar habitado e partilhado onde habitação e partilha são equacionados. A tecnologia transforma o ecrã de projecção num ecrã que projecta — distinção sublinhada pelas imagens da artista projectadas no início e no fim. Este ecrã-projector mede, instante a instante, o espaço entre os bailarinos, tornando mais vibrante a inscrição espacial dos seus movimentos. 3D? Não, 4D. Nestes momentos, que podiam até ter sido prolongados, a profundidade visual expande também a experiência do tempo, da duração dos gestos de vida dos bailarinos. As palavras ditas em várias línguas pela comunidade do tamanho do mundo que Bausch criou em Wuppertal, em off, sobre os rostos, têm o mesmo poder evocativo e expressivo da sua dança teatral — ao mesmo tempo íntimas e impressivas, numa busca espiritual de redescoberta do corpo. [03.06.2011, orig. 05.2011]
