United 93 (2006)


Voo 93, real. Paul Greengrass. EUA/França/Reino Unido, 2006. 35mm, cor, 111 min.

Esqueçamos o 11 de Setembro de 2001 — por enquanto. É preciso deixar essa referência e abordar esta obra como thriller. Como filme de suspense, Voo 93 é original e irrepreensível. É uma experiência intensa influenciada pela série 24 (2001-10, 2014), na coincidência entre o tempo narrado e o da narração. Mas a película dirigida por Paul Greengrass nunca apresenta diferentes planos de acções paralelas na mesma imagem, como a criação de Joel Surnow e Robert Cochran. O ponto de vista é selectivo e prepara a (quase insuportável) tensão dos últimos minutos. A riqueza emocional do filme está enraizada na estrutura que o divide em dois. Na primeira parte, a montagem alterna os passageiros que embarcam no voo 93 e as salas de controlo aéreo e militar. Nenhum passageiro é destacado, mas há contínuas focalizações visuais e sonoras — porque cada personagem vive os seus momentos e todas as conversas se sobrepõem. Nas salas de controlo, a racionalidade da linguagem técnica contrasta com a surpresa criada pelos acontecimentos — os controladores procuram um dos aparelhos desaparecidos do radar quando vêem a sua colisão com uma das torres do World Trade Center na televisão. O que se passa nos aviões desviados é elidido, sublinhando a impotência de quem é superado pela realidade do terrorismo quando dispõe apenas de representações em ecrãs. Na segunda parte, os terroristas sequestram a aeronave da United Airlines. As cenas exteriores são breves, para uma maior concentração até ao seco desenlace. A recusa da funcionalidade narrativa e dramática das personagens, estabelecida na primeira parte, faz com que tudo se decida na intimidade e na força individual tornada colectiva. Toda esta agilidade formal desmente que Voo 93 seja uma simples (ou simplista) recriação de episódios do 11 de Setembro vivido em território dos Estados Unidos. Há muito para sentir e pensar neste objecto de cinema. Os seus elementos documentais, nomeadamente o facto de muitas pessoas fazerem delas próprias, salientam que é preciso entender como estes eventos são abordados como presente — e não como passado, como o espantoso Os Amantes Regulares (Les Amants réguliers, 2005) de Garrel faz com o Maio de 68. O 11 de Setembro de 2001 nunca será esquecido com filmes assim. [16.06.2011, orig. 08.2006]