La nostra vita (2010)


A Nossa Vida, real. Daniele Luchetti. França/Itália, 2010. 35mm, DCP, cor, 98 min.

Daniele Luchetti, realizador de O Meu Irmão é Filho Único (Mio fratello è figlio unico, 2007), continua a retratar a sociedade italiana através do drama familiar. Neste caso, um trabalhador de construção civil perde a esposa no parto do terceiro filho do casal — e tem de cuidar dos filhos e sobreviver. Acompanhando esta resposta íntima à perda, com a ajuda de familiares e amigos, o filme foca também a existência dos trabalhadores ilegais e emigrantes. Elio Germano ganhou o prémio de melhor actor no Festival de Cannes de 2010. A sua presença é subtil, penetrante, em sintonia com o tom da obra, que evita o dramatismo. A câmara fecha-se no rosto dele nalguns momentos, mas poucos são de catarse — como aquele em que ele grita na igreja a canção “Anima fragile” de Vasco Rossi, que ambos cantam no início, na cama. É a música deles. Nela se diz que “a vida continua mesmo sem nós”. O filme ensaia uma abertura ao quotidiano, mas a faceta pessoal do filme anterior surge enfraquecida, e com ela a sensibilidade política e a ressonância emocional do retrato. A “vida” do filme e da canção é demasiado genérica, entrelaçando temas sociais, e permanecendo à distância pelo sentido demonstrativo que permeia mesmo as cenas conjugais. A mudança do singular (o meu irmão) para o plural (a nossa vida) no título reflecte isso. O que falta é uma maior receptividade ao inesperado, à singularidade das pessoas e dos seus gestos, de que os cineastas neo-realistas italianos nunca abdicaram. [10.09.2011, orig. 08.2011]