Transformers: Dark of the Moon (2011)


Transformers 3, real. Michael Bay. EUA, 2011. 35mm, 70mm, DCP, cor, 157 min.

Transformers 3 não repete o sentido de fábula sobre a transição da puberdade para a adolescência do primeiro filme, nem o espírito mitológico de aventura através da história da humanidade do segundo. Desta vez, o tom é político. Na cena em que diversos decepticons são teletransportados da Lua à Terra em frente do Lincoln Memorial, o debilitado Megatron esmaga a estátua do presidente americano e ocupa o seu lugar. Esta ambição de poder permanece até ao fim e contrasta com as palavras atrás dele, que lembram como a memória de Abraham Lincoln está inscrita “nos corações das pessoas para quem ele salvou a união”. Optimus Prime representa um desejo semelhante de aliança entre humanos e transformers. O filme mostra a devastação de Chicago como uma tentativa de criar uma distopia, concretizada com a importação integral da terra-mãe Cybertron. O tema da colonização, do olhar do forte sobre o fraco, da relação do que se vê como civilizado com o que é visto como primitivo, é relevante numa altura em que os EUA travam duas guerras militares e ideológicas no Médio Oriente. Michael Bay tira partido expressivo do 3D, corrigindo a luminosidade das imagens, e compondo o movimento em diversos níveis. Sobressai a capacidade do realizador em transmitir a dinâmica interna da acção, reconfigurando o mundo (como quando um arranha-céus se parte em dois, fazendo um plano inclinado da fachada de vidro e uma parede do chão, ou como no mergulho e voo com wingsuits, entre alto e baixo, céu e terra). A montagem, que recorre até a separadores a negro como marcadores rítmicos, confirma a sensibilidade experimental do cineasta. A energia e o dinamismo da tecnologia são incorporados na obra, como na arte futurista, mas mais perto do turbilhão de perspectivas do vorticismo. É verdade que os secundários (com a divertida participação de Alan Tudyk, entre outros) desfilam sem grande consequência. E que Rosie Huntington-Whiteley consegue manter-se como foco de fantasia (o motor do cinema de Bay) na parte inicial, mas surge pouco confiante na última, sem a ligação às máquinas da personagem de Megan Fox ou a sua presença magnética e vigorosa. Mas mesmo com alguma inconsistência narrativa, esta série produzida por Steven Spielberg permanece uma das poucas reflexões do cinema popular contemporâneo sobre a nossa relação com a tecnologia — com o seu fascínio, actividade, e valor. A distinção entre imagens de arquivo e cenas encenadas, políticos e actores, cruzando a história da exploração espacial (e da rivalidade política entre EUA e URSS) com a história do filme, confirma que neste caso tal reflexão está ligada à ideia da conjugação do diferente. [06.08.2011, orig. 07.2011]