Melancolia, real. Lars von Trier. Alemanha/Dinamarca/França/Suécia, 2011. 35mm, DCP, cor, 136 min.
Melancolia sobe ao alto e desce à terra sem abandonar as personagens. Esta proximidade é recente na filmografia de Lars von Trier. É preciso não a confundir com o modo cru, à flor da pele, como a câmara segue os actores. A proximidade que vemos aqui é uma forma de empatia. Este não é um filme sobre a melancolia. É um filme melancólico, que nos sintoniza com uma tristeza profunda e persistente, plena de nuances. As duas protagonistas mostram que esta tristeza não exclui a felicidade, mas o contentamento — desmascarando, por isso, o falso contentamento. Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg) têm uma consciência aguda de que o seu desejo e a sua ânsia têm como objecto o incomensurável e o incompreensível. As duas partes em que a obra se desdobra, depois da introdução apocalíptica, centram-se em Justine e Claire, entre a festa social e a convivência familiar, a agitação e a acalmia. Tal como o 19.º buraco por onde Claire passa com o filho nos braços, a ligação entre as partes e as irmãs é misteriosa, feita de aparentes repetições como o passeio a cavalo e de contrastes entre a noiva Justine (foco de exigências) e a mãe Claire (foco de desatenções). Esse mistério não pode ser representado, mas pode ser experimentado, se mergulharmos em vez de planarmos — é esse o convite das espantosas primeiras imagens alegóricas, em que se vê o movimento do espírito na matéria, que se alarga às outras imagens. O cineasta fechou uma declaração escrita sobre o filme com a afirmação de que só pode fechar os olhos, esperançoso. Conjugando a gravidade emocional com a exaltação da música romântica de Richard Wagner, Melancolia proclama essa possível atitude luminosa, acompanhada, do estado melancólico. [16.12.2011, orig. 11.2011]