Commingled Containers (1997)


Commingled Containers, real. Stan Brakhage. EUA, 1997. 16mm, cor, 5 min.

Há muitos filmes feitos para ninguém, disse Stan Brakhage. A arte continua, porque no fundo os artistas não têm querer. São impelidos. A sua obra tem primeiramente a ver com a capacidade de exteriorizar processos de pensamento através do movimento visual, pensar para além da linguagem, de uma forma não nomeável, tendo uma referência interna e íntima. É preciso que os dois hemisférios do cérebro convirjam. Este filme foi produzido antes de uma cirurgia ao cancro a que Brakhage foi submetido. Ele sabia que podia ser o seu último. Foi uma dádiva e o cineasta teve pena de não ter ficado como o seu último filme. O título ficou Commingled Containers (Recipientes Misturados), retirado de uma lata de feijões, mas é alegórico: eis um recipiente de bolhas no recipiente que a água é e no recipiente que a vida é, recipientes misturados. A vida nasceu na água. O filme olha a superfície e o que está debaixo dela, por fora e por dentro, expressando tudo. Fotografa a essência da vida como uma interacção de pulsares em recipientes misturados. Brakhage tinha comprado uma nova câmara e queria experimentá-la como se estivesse a filmar pela primeira vez. Resolveu filmar o princípio: a água. [23.03.2019, orig. 09.2005]