Treblinka (2016)


Treblinka, real. Sérgio Tréfaut. Portugal/Rússia, 2016. DCP, cor, 61 min.

Treblinka é sobre os horrores do extermínio levado a cabo pelo nazi-fascismo. É um tema que não deve cair no esquecimento, tal como a Segunda Guerra Mundial, cujo desenlace pôs cobro a esses actos ignóbeis, gerando pelo caminho mais de 11 milhões de vítimas só na URSS. No filme, a actualidade surge assombrada, como se recordar fosse descobrir marcas que subsistem do passado no presente. É um universo fantasmagórico, feito de reflexos e duplas imagens. Nesse sentido, esta obra combate uma certa banalização da imagem do horror associado ao Holocausto e às suas representações. Tudo passa pela voz e pela palavra, pelo que são capazes de evocar. As vozes femininas tornam o testemunho polifónico. O corpo torna-se espectral. “O horror não se pode mostrar”, defende o relizador Sérgio Tréfaut. Daí chamar-lhe filme-ensaio, na medida em que reflecte sobre as suas possibilidades e limitações da representação do horror, impostas pela natureza dos próprios acontecimentos. O trabalho da memória passa pela narração do que foi vivido pelo judeu polaco Chil Rajchman, enviado para o campo de Treblinka, na Polónia ocupada pelos nazis. Rajchman relatou a sua história no livro de memórias Sou o Último Judeu: Treblinka (1942-1943). As memórias de Marceline Loridan-Ivens, cineasta e escritora sobrevivente do Holocausto, também serviram de base ao filme. O filme descreve a viagem forçada entre a Rússia, a Ucrânia, e a Polónia, feita por muitos judeus para serem fechados em campos de concentração ou mortos em campos de extermínio como o de Treblinka. Foi filmado de forma basicamente clandestina, por receio de que não fosse concedida autorização, o que fez com que a rodagem tivesse sido muito dura. Por isso, a sensação que fica é a de que a viagem não tem fim. O horror continua de outra maneira e está permanentemente presente. [19.04.2020, orig. 06.11.2017]